terça-feira, 18 de junho de 2013

A Revolução Diária !

Buscando incessantemente antever mudanças efetivas resultantes das manifestações que tomaram conta do país ontem, me veio logo de início a ideia (calculista, eu sei !) de que este tipo de “postura revolucionária” em busca de justiça, paz e moralização administrativa, nos dias cruéis como os que vivemos, possui um cunho extremamente romântico e infinitamente desprovido de prática.
A despeito da minha polêmica opinião, ontem fui taxada de conservadora, cínica e o pior “de pessoa que não faz nada pela mudança do Brasil”.
Ora faça-me o favor !
Eu mais do que ninguém, vivo uma constante vigília e mantenho uma atitude de protesto freqüente diante das muitas mazelas sociais que vivencio cotidianamente.
Todos os dias questiono as muitas situações de violência exacerbada contra crianças, idosos, doentes mentais e animais, que presenciamos corriqueiramente aqui por Belém, sempre que posso reclamo em alto e bom tom do comportamento abusivo de funcionários públicos contra uma população absolutamente desprovida de conhecimento e direção, diante dessa burocracia ineficaz e infinitamente burra, que tomou contra da maioria dos órgãos públicos destinados a dar “proteção” aos afamados “direitos” constitucionalmente garantidos, que digam os velhinhos que padecem em filas e em corredores de hospitais todos os dias ou são empurrados de um lugar para o outro, quando precisam de qualquer informação mais detalhada sobre suas míseras pensões, que digam a geração de menores que cresceu sem qualquer proteção e (o pior) sem qualquer perspectiva de melhoria através da educação, por que esta não se faz só de escolas “bem equipadas”, mas de professores engajados, valorizados. De que adianta uma escola linda e um professor que não consegue valorizar nada mais do que ter um I.Phone na vida.
Sempre que percebo, reajo contra o preconceito, contra o trânsito imperdoável, contra os motoristas mal-educados, contra essa indústria de multas que não ajuda em nada, contra a ação criminosa dos incautos flanelinhas que nos fazem reféns de suas delimitações urbanas, contra a falta de fiscalização efetiva dos órgãos responsáveis pelo desenvolvimento do Estado, do Brasil, contra a postura desidiosa de nossos “representantes” no que se refere ao controle dos excessivos gastos públicos (inclusive meu objeto de estudo), contra os subornos e propinas da vida.
Protesto contra o abandono dos prédios históricos de Belém, contra esse barulho infernal que sai de carros equipados como tanques de guerra, cujos motoristas não respeitam nem mesmo as circunscrições de hospitais, protesto contra o lixo despejado nas ruas, contra o transporte caro e imundo dessa cidade, contra desperdício de água que o meu próprio síndico promove, quando compra uma máquina de “lavar” a calçada, contra o cano que está furado na minha rua, contra a pessoa que abandonou dois cachorros amarrados para morrer num poste, contra a mulher que bate no rosto do filho na fila do supermercado.
Isso é que é terrível ! Isso é que está matando a gente !
Neste ponto Queridos, sou tão ou mais ativista do que todos aqueles que foram pras ruas ontem em Belém.
Apesar de integrar a geração “Cara Pintada”, confesso (com extremo pesar) que há tempos deixei de acreditar nesses “revolucionários de um dia”. A mudança efetiva só vem, quando mudamos a nossa postura de cidadão.
Cidadania não é só votar e protestar depois, por que se fosse só isso, estaríamos realmente numa enrascada, visto que nem isso sabemos fazer direito.
Amanhã, quando a corja do BRT (digo não só o Ex-Prefeito Dudu, mas principalmente “os outros” que também mamaram tanto quanto ele) vier a público, por meio de campanhas políticas bem elaboradas e promessas convincentes, a grande maioria dos “revolucionários” de ontem, vai votar neles!
E isso é realmente uma M.... !
O que precisa mudar então é a nossa atitude diária. As instituições mudam de acordo com a nossa mudança. A qualidade dos nossos representantes precisa melhorar e muito. De nada adianta eu demonstrar o meu descontentamento num dia e seguir com a vidinha no outro, votando no meu tio, por que ele vai me dar um emprego como membro de seu gabinete. É preciso que haja uma postura de contribuição com o país, através de pesquisa acadêmica, da exposição de nossas mazelas com base em dados sólidos, de denúncias de abusos, de acompanhamento e fiscalização dos gastos efetivos, de cobrança por transparência nas ações estatais, de preparação de projetos de lei de iniciativa popular (como foi o da Lei da Ficha Limpa), de verificação e cobrança de problemas pontuais. Não dá pra realizar o geral, tem que ser passo a passo. E isso não é possível de uma hora pra outra.
A ideia então, é que o primeiro passo já foi dado (a demonstração de descontentamento) e agora ?
Vamos estabelecer as metas?


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