Buscando
incessantemente antever mudanças efetivas resultantes das manifestações que
tomaram conta do país ontem, me veio logo de início a ideia (calculista, eu sei
!) de que este tipo de “postura revolucionária” em busca de justiça, paz e
moralização administrativa, nos dias cruéis como os que vivemos, possui um
cunho extremamente romântico e infinitamente desprovido de prática.
A
despeito da minha polêmica opinião, ontem fui taxada de conservadora, cínica e
o pior “de pessoa que não faz nada pela mudança do Brasil”.
Ora
faça-me o favor !
Eu
mais do que ninguém, vivo uma constante vigília e mantenho uma atitude de
protesto freqüente diante das muitas mazelas sociais que vivencio
cotidianamente.
Todos
os dias questiono as muitas situações de violência exacerbada contra crianças,
idosos, doentes mentais e animais, que presenciamos corriqueiramente aqui por
Belém, sempre que posso reclamo em alto e bom tom do comportamento abusivo de
funcionários públicos contra uma população absolutamente desprovida de conhecimento
e direção, diante dessa burocracia ineficaz e infinitamente burra, que tomou
contra da maioria dos órgãos públicos destinados a dar “proteção” aos afamados “direitos”
constitucionalmente garantidos, que digam os velhinhos que padecem em filas e
em corredores de hospitais todos os dias ou são empurrados de um lugar para o
outro, quando precisam de qualquer informação mais detalhada sobre suas míseras
pensões, que digam a geração de menores que cresceu sem qualquer proteção e (o
pior) sem qualquer perspectiva de melhoria através da educação, por que esta
não se faz só de escolas “bem equipadas”, mas de professores engajados,
valorizados. De que adianta uma escola linda e um professor que não consegue
valorizar nada mais do que ter um I.Phone na vida.
Sempre
que percebo, reajo contra o preconceito, contra o trânsito imperdoável, contra
os motoristas mal-educados, contra essa indústria de multas que não ajuda em
nada, contra a ação criminosa dos incautos flanelinhas que nos fazem reféns de
suas delimitações urbanas, contra a falta de fiscalização efetiva dos órgãos
responsáveis pelo desenvolvimento do Estado, do Brasil, contra a postura desidiosa
de nossos “representantes” no que se refere ao controle dos excessivos gastos
públicos (inclusive meu objeto de estudo), contra os subornos e propinas da
vida.
Protesto
contra o abandono dos prédios históricos de Belém, contra esse barulho infernal
que sai de carros equipados como tanques de guerra, cujos motoristas não
respeitam nem mesmo as circunscrições de hospitais, protesto contra o lixo
despejado nas ruas, contra o transporte caro e imundo dessa cidade, contra desperdício
de água que o meu próprio síndico promove, quando compra uma máquina de “lavar”
a calçada, contra o cano que está furado na minha rua, contra a pessoa que
abandonou dois cachorros amarrados para morrer num poste, contra a mulher que
bate no rosto do filho na fila do supermercado.
Isso
é que é terrível ! Isso é que está matando a gente !
Neste
ponto Queridos, sou tão ou mais ativista do que todos aqueles que foram pras
ruas ontem em Belém.
Apesar
de integrar a geração “Cara Pintada”, confesso (com extremo pesar) que há
tempos deixei de acreditar nesses “revolucionários de um dia”. A mudança
efetiva só vem, quando mudamos a nossa postura de cidadão.
Cidadania
não é só votar e protestar depois, por que se fosse só isso, estaríamos realmente
numa enrascada, visto que nem isso sabemos fazer direito.
Amanhã,
quando a corja do BRT (digo não só o Ex-Prefeito Dudu, mas principalmente “os
outros” que também mamaram tanto quanto ele) vier a público, por meio de
campanhas políticas bem elaboradas e promessas convincentes, a grande maioria
dos “revolucionários” de ontem, vai votar neles!
E
isso é realmente uma M.... !
O
que precisa mudar então é a nossa atitude diária. As instituições mudam de
acordo com a nossa mudança. A qualidade dos nossos representantes precisa
melhorar e muito. De nada adianta eu demonstrar o meu descontentamento num dia
e seguir com a vidinha no outro, votando no meu tio, por que ele vai me dar um
emprego como membro de seu gabinete. É preciso que haja uma postura de
contribuição com o país, através de pesquisa acadêmica, da exposição de nossas
mazelas com base em dados sólidos, de denúncias de abusos, de acompanhamento e
fiscalização dos gastos efetivos, de cobrança por transparência nas ações
estatais, de preparação de projetos de lei de iniciativa popular (como foi o da
Lei da Ficha Limpa), de verificação e cobrança de problemas pontuais. Não dá
pra realizar o geral, tem que ser passo a passo. E isso não é possível de uma
hora pra outra.
A ideia então, é que o primeiro passo já foi dado (a demonstração de
descontentamento) e agora ?
Vamos estabelecer as metas?
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