quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Melhor do Mundo: "Dar a volta por cima e voltar."

Em meio a um longo e tenebroso inverno pessoal por qual passei no primeiro semestre deste ano, do qual ainda me encontro fugindo, por meio de análises dolorosas que revelam meus muitos defeitos e tudo mais que há de errado com o meu modo de ser e de agir, ao menos uma coisa boa, dentre as muitas ruins veiculadas todos os dias, me chamou atenção no noticiário da manhã:
O caso de pessoas que doam órgãos para salvar a vida dos seus ex-cônjuges.
Essa atitude, que aos olhos de muitos pode não parecer muita coisa, muito menos um ato merecedor de uma cobertura jornalística, é, aos olhos daqueles que já vivenciaram relacionamentos complicados, com finais dolorosos e infelizes, um verdadeiro ato de coragem, pois se baseia na idéia de que uma hora precisaremos nos reerguer de nossa dor para nos conectarmos (e se possível, nos solidarizarmos) com aqueles que precisam de nós.
No decorrer dos tempos, a humanidade se acostumou a cultuar heróis cujos feitos beiravam aos de uma divindade, relegando a um segundo plano, na maioria das vezes, aqueles atos genuínos que dizem respeito a uma superação pessoal individual. O que é realmente complicado.
Uma vez ouvi uma frase de um sacerdote católico num programa de TV em que ele dizia ser fácil amar a humanidade, difícil era amar o meu vizinho !
O ato de ajudar alguém que, porventura, já nos feriu ou nos magoou, revela em nós a existência do um ser especial que é capaz de perdoar, capaz não só de "dar a volta por cima", mas de voltar a se conectar ao mundo, à realidade.
Nas minhas recentes incursões pelo mundo da análise psicológica (que aliás, recomendo a todos), tenho descoberto medos e incertezas em mim que julgava nunca terem existido.
Num desses episódios de me transportar para o meu "eu verdadeiro" (que eu, há muito, julgava conhecer) descobri a minha grande dificuldade de perdoar, justamente quando não consegui descrever com precisão o que o "perdão" significa pra mim.
Devo confessar que isso foi uma experiência transformadora, por que a partir daí, comecei a reparar o quanto sou rigorosa com todos que me cercam.
Antigamente, eu tinha isso como uma grande qualidade. Mas somente depois de refletir seriamente sobre esse assunto é que pude finalmente perceber o quanto me isolei (e ainda me isolo), o quanto de felicidade eu deixei passar por ser tão eficiente em detalhar os defeitos alheios.
Não que eu fosse um monstro, pois sempre fui muito moderada em comentários e atitudes que me desagradavam nas pessoas com quem convivi, preferindo somente me afastar. No entanto, a questão está justamente em não aceitar o outro como meu semelhante, como uma pessoa capaz de errar e de se arrepender.
Meu Deus, de quantas coisas me arrependo ! Essa conversa do " não me arrependo de nada" é mais cínica do que qualquer outra falácia contada em círculos de amigos, por que só serve para enganar a nós mesmos.
Talvez, essas pessoas que doaram seus órgãos aos cônjuges, fazendo esse bem inimaginável ao outro, ou melhor, devolvendo-lhes a esperança de viver, tenham tido tempo e espaço para repensar seus possíveis erros e tenham verdadeiramente se arrependido de não terem sido mais pacientes ou amorosas em determinadas situações.
Eu, dada a minha confusão emocional constante, não posso atentar por certo qual é a razão específica e pessoal que leva uma pessoa a tomar uma atitude drasticamente amorosa em favor do outro. Entretanto, não posso deixar de elogiar estes atos e esperar que um dia eu seja capaz disso também.

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